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Graduação – Loading 90%

São três da manhã e eu estou num ciclo de surtação interior que começou ontem à noite, quando saiu a oferta de matérias da Letras para o próximo semestre.

Estava eu, olhando e sentindo a vontade costumeira de me matricular em dez matérias, quando de repente percebi… que daquelas matérias, três apenas são as que eu devo fazer pra me formar no próximo semestre. Só de pensar nisso, meu sangue ainda gela embaixo da pele. E por mais que eu faça a matemática, eu sempre estou certa nas contas, sempre o mesmo resultado. Concluí as matérias de linguística, de literatura. Deprimente ou não, faltam duas matérias de ênfase da monografia e… gramática tradicional.

Ou seja, de quebra, no meu último semestre vou fazer matéria com calouros. Acho que vou até mudar o nome do meu blog pra “estudando com calouros”.

Quero dizer. Eu vou me formar. Me formar. Serei uma bacharel em inglês. Pela FALE. Faz cinco anos que levo essa vida, por que essa sensação é tão estranha? Por que esse frio na barriga afinal? Faz anos que eu vejo meus amigos se formarem, porque boa parte deles é mais velha ou mais avançada academicamente. Eles concluem, entregam uns relatórios, defendem uma monografia, tiram cem, vestem aquela beca ridícula no dia da colação, tem uma dezena de discursos piegas sobre a vocação do profissional de letras (blah) e, inevitavelmente, o pesadelo da breguice: um power point com música e foto dos formandos. Tudo isso é horrível até mandar parar. Eu já fiquei na platéia inúmeras vezes, e ficarei na próxima pra ver alguns amigos se formarem, mas na colação de, sei lá, agosto, serei eu. E se tem uma lição aprendida nesse blog, é que o tempo passa, e assim como há um ano exato eu estava ficando sem dinheiro em Londres, trabalhando e me sentindo horrivelmente sozinha, sei que daqui a um ano tudo vai ser ainda mais radicalmente diferente.

Na verdade, eu mudei de assunto por vergonha. Eu tenho uma secreta paixão por colações de grau. Sabe como dizem que pra muitas mulheres o casamento é a cerimônia da vida dela? E casamento é piegas, ridículo, brega, com discurso, talvez até power point… Pois é, sabe? (ah, o powerpoint, que custa a sair de moda!)Então… digamos que a colação de grau será o meu casamento. A mera idéia já me assusta tanto que eu tenho medo de ficar chorando igual uma retardada durante o negócio todo. Mas como não? Vão me chamar lá pra receber meu canudo lilás, vão falar meu nome inteiro, meus pais vão estar explodindo de orgulho e meus amigos vão provavelmente ficar me chamando de cachaceira.

Cerimônias são importantes, sabe. A idéia de passar por essa cerimônia específica, a colação de grau da Letras, sinceramente me apavora. Vou ter 23 anos e um diploma de Letras! Eu estou repetindo isso vezes demais, né? Muitas vezes? Bem, desculpe. Blog é blog.

Bom, agora são três e quinze da manhã e eu ainda me sinto desorientada. E, ainda que falte pouco, parece que é tanto! E tem o D.A.! Aliás, minha chapa ganhou a eleição, obrigada a todos!

Acho que a sensação de medo que estou tendo agora me lembra muito uma situação que me aconteceu em julho.

Eu tinha voltado pra Belo Horizonte depois de chegar no Brasil e passar um mês com meus pais. Daí meu pai veio comigo no fim de julho, e minha amiga Nádia veio comigo. O dia foi corrido, assistimos o último filme de Harry Potter com a Melissa e a família dela, foi épico. Quando fomos dormir, eu estava um pouco decepcionada porque meu pai e a Nádia iam embora dali a pouco, e eu tinha a sensação de que não tinha sido uma boa hostess. Não estava conseguindo dormir de jeito nenhum, e eu achava que era por isso.

Finalmente eu me levantei, saí do quarto da moradia, fiquei sentada na sala um bom tempo. Era mais ou menos a hora que é agora. Eu percebi que estava é com medo. Porque quando eles saíssem na manhã seguinte, quando o carro arrancasse e eu ficasse aqui na Avenida Fleming, eu estaria sozinha de novo. E depois de oito meses sozinha em Londres, eu tinha me agarrado aos meus pais, e sinceramente eu tinha um medo quase paralisante de retomar a minha vida no Brasil. De não ser tão boa quanto antes. Nessas horas, qualquer bobagem faz você se sentir pior. Eu me senti menos bonita, por causa da engorda que sofri lá fora. Me senti inútil, porque meu último emprego consistia de três dias humilhantes sendo garçonete no Hilton Heathrow. Eu tinha sonhado tanto, e agora que tinha voltado, estava com medo da vida real não condizer com as minhas expectativas.

E bem, eu estava errada, pra meu alívio.

Inclusive eu escrevi pouco aqui, ainda que tenha pensado em diversas pautas, mas porque durante boa parte do semestre eu surtei achando defeitos fatais na minha monografia, ou lidando com empregos em três lugares diferentes + aulas particulares + legendagem (entrei prum grupo desses de legendagem de séries) + matérias da faculdade (acabei trancando duas das cinco, e só depois descobri q elas eram desnecessárias mesmo…). E agora, no fim do ano tudo se acresce ao D.A. Letras, meu xodó. É tanta coisa pra pensar que não dá pra se desligar, aí de repente sai essa oferta…

E nós voltamos ao começo do post.

O texto cíclico foi acidental. Mas talvez seja assim pra eu descobrir que esse meu medo de não dar conta é saudável. É o que mantém a gente na ponta do pé.

*respirando fundo*